A empresa de confeção fez um investimento na transição digital, incluindo informação em tempo real sobre as encomendas, que lhe permite estar preparada para as mudanças que vão ocorrer na próxima década.

Nas instalações da Brandbias, os clientes encontram agora um corte automático – que garante ainda uma maior eficiência e produtividade – e tablets em todas as estações de trabalho, mas, mais do que apenas equipamentos, foi a própria forma de trabalhar que mudou na empresa.

A cortadeira foi substituída por uma operadora de CAD, licenciada em informática, e todos os passos da encomenda são registados pelos diferentes técnicos, com a informação a ser reunida num software de gestão da produção que permite saber, em tempo real, o estado de cada encomenda.

«Cada trabalhador tem acesso, dentro do seu próprio tablet, à informação de todas as produções que fez nos últimos seis meses. Temos também um ecrã em cada sector da fábrica – corte, confeção e embalagem – que pode passar informação do planeamento, ordens de fabrico prioritárias ou, então, dados da produção em tempo real», explica, ao Portugal Têxtil, Gonçalo Serra, CEO da Brandbias.

A informação, que está integrada também com o ERP principal da empresa, permite um melhor serviço ao cliente, que pode ser facilmente informado sobre o estado da encomenda. «Mostramos isto aos clientes, por foto ou fisicamente quando nos visitam, e o feedback tem sido muito, muito positivo. Eles sentem que nós controlamos a situação. Já não perguntam quando é que vamos entregar a encomenda – sentem que estamos a controlar a situação, porque somos proativos e passamos essa informação», indica o CEO.

Por outro lado, o software, que está diariamente a ser customizado para melhor servir as necessidades da empresa, tem também sido fonte de motivação para a equipa de 22 pessoas que trabalham na Brandbias. «Temos objetivos diários, mensais e anuais definidos por todos, todos sabemos o que estamos a fazer. É muito importante que as pessoas hoje saibam que se está a produzir a mais, que temos menos ou mais reclamações, que temos menos ou mais arranjos internos, que temos menos ou mais problemas internos. Nada está escondido, nem nada está oculto à equipa de trabalho», sublinha Gonçalo Serra.

Os próximos passos poderão passar por permitir que os próprios clientes consultem diretamente na plataforma o estado da encomenda, embora seja ainda «um bocadinho prematuro» fazer esse avanço. De qualquer forma, acredita o CEO, «com esta atualização, acabámos de nos preparar para os próximos 10 anos, garantidamente, em termos da revolução tecnológica que estamos a viver».

Visibilidade reduzida

Com certificação STeP e GOTS há vários anos, é na eficiência que a empresa especialista na confeção em private label tem apostado para crescer. «A dimensão da empresa tem-se mantido sempre com o mesmo número de trabalhadores, temos é aumentado a eficiência. Este ano já estamos a produzir mais do que no ano passado e no ano passado produzimos mais do que no anterior, portanto, temos aumentado a eficiência da empresa à custa do planeamento e à custa destes processos de digitalização que temos feito», refere.

No mercado, contudo, sente-se alguma incerteza. Com uma quota de exportação de 90%, com enfoque em Espanha, Alemanha e Suíça, a Brandbias tem atualmente «menos encomendas em carteira do que o habitual», aponta o CEO, acrescentando que «do ponto de vista de produção, temos mais 8.000 peças produzidas quando comparado com o período homólogo do ano passado, ou seja, estamos acima devido ao aumento da eficiência da fábrica, e a nível de faturação também estamos um bocadinho acima, mas, a nível de horizonte temporal, não conseguimos ver tão ao longe, estamos a ver muito mais ao perto. Estamos a trabalhar mais em cima. Por exemplo, no ano passado, em setembro já tínhamos encomendas em carteira até dezembro, janeiro, eventualmente fevereiro. Este ano, temos até outubro, meados de novembro».

Adaptação é, por isso, a palavra de ordem. «Temos de olhar para isto, perceber e adaptarmo-nos ao mercado, não nos podemos esconder. Temos de estar atentos e perceber que esta mudança veio para ficar. Temos de transformar as empresas e fazer outro tipo de oferta aos nossos clientes e isso passa por processos digitais, passa por eles perceberem que a empresa continua a fazer investimentos para o futuro e passa por continuar a apostar na sustentabilidade», enumera.

Sem descurar a procura por novos clientes e mercados, incluindo aí a presença em feiras como a ISPO Munich, Gonçalo Serra acredita que «com este investimento e com esta alteração da organização, crescemos. Somos muito mais empresa, temos muito mais músculo, mais alicerces e acho que ganhamos os próximos 10 anos».